A atriz Marcella Maia ficou bastante conhecida após dar vida à ‘Morte’ na novela ‘Quanto Mais Vida, Melhor’, da ‘TV Globo’. No entanto, a experiência parece não ter sido das melhores para a artista. Em áudios vazados, que esta coluna teve acesso com exclusividade, é possível ouvir um longo desabafo feito pela moça, que é uma mulher trans, onde ela afirma ter sofrido ataques e perseguição por parte da produção e pessoas do elenco, nos bastidores da emissora.
“Eu nem sei como falar dessa história, porque eu prezo muito minha carreira, meu trabalho. Demorou muito tempo pra chegar até aqui e conquistar as coisas que eu conquistei. Só que eu passei por muitas coisas nesses últimos tempos. Eu não quis ir na internet falar sobre isso, mas estou te falando agora pra você entender mais ou menos o que rolou. Fui vítima de ataques contínuos dentro da emissora e perseguição por uma simples fala que eu disse”, começou ela.
No áudio gravado, Marcella contou que sofreu durante o período de gravações. “Nunca precisei trocar e dar favores sexuais para conseguir papéis na dramaturgia. Sempre estudei, e não foi fácil. Foram muitos trabalhos pra chegar aqui e o que me deixa mais frustrada é que para encobrir todos os abusos… por que é uma rede, né? É uma bolha que se protege e, se você se posiciona e se defende uma vez ou vai contra toda a toxicidade desse meio que tem é muito ego e muita competitividade, esse lance de união e de ninguém solta a mão de ninguém é tudo uma grande balela”.
Ela continuou: “Eu me destruí totalmente. Eu realizei um dos meus maiores sonhos e, após terminar esse trabalho na emissora, eu meio que já estava com problemas psicológicos, físicos, eu ia trabalhar a base de remédio, porque eu não aguentava mais a perseguição de todos os lados”.
Na sequência, Maia explicou um outro acontecimento. “Quando eu cheguei no Brasil pra poder fazer um papel, no segundo dia já tentaram me jogar em um bacanal, mas eu percebi e saí fora. Já estava com um contrato assinado no meu dia primeiro dia de filmagem, eu filmei nua na frente de 40 câmeras, e aí o diretor me tocou e falou: ‘Tira o tapa-sexo. Vai ser sem o tapa sexo’. E eu, tremendo, consegui entregar a cena, porque tudo isso pra mim é tudo. Atuar e estar em um palco”, contou sem citar nomes.
Ela, então, questionou: “Às vezes eu penso assim: ‘Será que essas pessoas vão continuar impunes nesses abusos que acontecem na indústria?’. Eu achei que eu fosse morrer. A droga sempre esteve presente na minha vida, pela minha realidade periférica. Só que eu estava limpa há três anos e logo quando aconteceu essas coisas, eu tive uma recaída. Tive uma overdose e achei que eu ia morrer, porque me senti naquele momento destruída, sem força, impotente. Calaram a minha boca usando o mais precioso que eu tenho, que é o meu trabalho”.
Marcella Maia afirmou, ainda, que duas atrizes se incomodaram com ela. “A pressão é muito grande e eu nunca imaginei que uma atriz que eu admirava, que eu era fã, iria se incomodar com alguém que está começando, e foi isso que aconteceu. Ela se juntou com uma outra atriz, que também é uma mulher trans, para poder tentar tirar a parcela de tudo que ela fez, com medo de eu expor, talvez. Mas expor pra quê? Percebi que essas pessoas acabam ficando cada vez mais famosas e mais ricas. É um sistema falho e que elimina nossos corpos”, disparou a artista.
Em outro momento, a atriz falou em “sistema de abuso” dentro da ‘Globo’. “As contenções de crise da emissora são simplesmente te manipular. E hoje, eu entendo que isso foi um crime gravíssimo, e eu estou conversando com meu jurídico nesse sentido, porque os danos foram muitos”, falou. “O medo de não trabalhar, de perder tudo que conquistei é muito grande. Eu amo meu país, eu não quero falar mal da emissora, sabe? São as pessoas que estão lá dentro. E esse sistema de abuso tem que parar”, completou.
Em um segundo áudio, a artista que deu vida à personagem ‘Morte’, voltou a falar sobre as pessoas do elenco que se juntaram para “exterminá-la”. “A Jade, o Babá… ela me perseguia. Se fez de amorosa, e depois de uma conversa no elenco, ele falou assim pra ela: ‘Eu dou graças a Deus que eu nunca precisei dar para ninguém para poder estar aqui’. Depois de algumas agressões que tinham ocorrido no backstage, uma outra amiga trans e atriz, que também estava no elenco, se juntou para me exterminar. É muito triste isso. Ver as nossas próprias ‘irmãs’ puxando o nosso tapete”, disse ela.
Em outro trecho, Maia afirmou que agora entendeu como funciona o jogo. “Isso me deixou muito esperta e sagaz. Agora eu sei mais ou menos como esse game funciona. Não faço parte desse game e não preciso, porque eu continuo acreditando no meu trabalho e que ele vai me levar na influência que eu quero, com o que eu entrego. Quem planta, colhe”.
Procurada pela coluna, para saber se eles tiveram conhecimento de algo na época, a assessoria de imprensa da ‘Globo’ não respondeu.
Ouça os áudios completos: